Preso aos fantasmas...



Algures entre o que foi e o que queria ser
Perdeu-se no caminho da razão...
Abandonou os sonhos
Por causa de uma promessa
Que não passava de ilusão...
Hoje vagueia no vale das sombras
Meio morto...
Ausente do mundo
Preso na teia da alucinação
Arrastando as pesadas correntes
Que o prendem aos fantasmas
Da sua triste condição...

Não me apetece fazer nada...


Hoje
... não vos vou falar de tristezas
Nem de lamentos...

... não procuro palavras para os meus poemas
Nem sequer tento...

A tarde alonga-se e a brisa sopra fresca
Um regalo para o meu corpo e mente
Que se delicia ao som da música amena
Vinda daquela banda de outros tempos...

Sentei-me neste banco de jardim
Alheia a tudo o que me rodeia
A preguiça tomou conta de mim
A minha mente vagueia

Apenas o meu corpo permanece aqui...

Quem te irá salvar a alma?



Esse teu ar irreverente
De boneca que tudo quer
Não te dá o direito
De maltratar e ofender
Quem te chama à razão
E te lembra as regras
Que pareces não entender...
Dignidade é coisa
Que no teu pequeno cérebro
Não tem ocupação!
Quem és tu?
Que te julgas alguém
Só porque tens uma cara laroca
E um corpo bem delineado
Quando dessa tua boca
Só te saem palavrões
Dirigidos a uma idosa
Que poderia ser tua avó?!
E que tanto incomodam
Quem tem educação!
Cresce menina...
Salva a tua alma enquanto podes...
Ainda estás a tempo de vir a ser alguém!

Anseio da manhã no meio da noite longa...


Mergulho no breu que se estende à minha frente
Apalpo o chão que me falta em cada passo que dou a medo
Não tenho outro remédio...
A noite alonga-se em redor da volta lenta dos ponteiros do relógio preguiçoso.
Escuto uma voz que me persegue em cada minuto das horas que não passam.
Um eco que me chega em surdina e se repete vezes sem conta.
São três da manhã de uma noite sem fim...
Dou por mim a fitar o relógio que me olha descarado lá do alto
Pendurado no lado avesso da parede erguida em frente de mim.
Tem ponteiros matreiros que nem se movem...
Estará avariado? Parece que sim!
Estremeço, quando um som familiar de objectos largados à bruta na minha mesa arrumada
Me chama ao mundo real e me lembra o porquê de estar ali!...
Lanço um último olhar ao meu alvo habitual...
Afinal, os ponteiros matreiros haviam-se mexido sem que eu desse por isso!
E a noite havia-se escondido no lado oposto da manhã.
A mesma manhã que nasceu no meu anseio, muito antes de ter clareado...

Um presente para ti...


Hoje queria
Escrever algo especial
Para te oferecer

Talvez um poema...

Que falasse do tanto
E do pouco
Do tudo
E do nada
Deste nosso estranho amor

Talvez nenhum de nós saiba o quanto...

Mas acreditas
Que não sei onde deixei
As palavras certas?

Não as encontro...

Mesmo assim
Ofereço-te estas...

São as que consegui
Neste esboço de poema
Que para ti
Hoje escrevi...

O desconhecido...



Que janela é esta
Que se abre
De par em par
Em cada manhã
De um novo dia

Será este o túnel
Que separa
A noite
Do dia...
O tal que dizem
Existir no fim...

Será este o tal caminho
Tão secreto...
E tão à vista
Que levará a alma
De uma vida interrompida?

Sim... talvez seja!

O portal mágico
De um sonho encantado
Que me levará a alma
Para o outro lado...

Sem corpo nem alma...





... o tempo comeu-lhe a carne
enquanto corria atrás de um sonho...

A vida escapou-se-lhe por entre os dedos
Nem deu conta...
Que enlouquecia de solidão
Julgando que vencia os seus medos
Na larga rua da ilusão
Onde se jogou à sorte

... a máquina devorou-lhe a alma
e definhou até à morte...

Brothers in arms... a minha versão


Em breve o sol desaparecerá
Sinto a morte por perto...
Não me abandones ainda
Meu irmão
Dá-me a tua mão...
Deixa-me sentir o calor
Da tua mão na minha...
Só mais um pouquinho...
Os meus olhos fecharam-se
Não consigo voltar a abri-los...
O tempo acabou para mim
O negro é tudo o que me restou
Deste campo de batalha
Só um ultimo pedido te faço
Daqui a pouco
Quando me vires morto
Não me deixes aqui
Neste chão imundo
Coberto de corpos
Desta estúpida guerra...
Por favor
Leva-me daqui
Para a minha terra!
Agora vai
Vai meu irmão...
Já não me podes valer
Sentis-te-o na moleza da minha mão...
Acabei de morrer!
Vai depressa
E leva-me também...

O céu partiu-se...


Nas horas tardias que restavam do tempo, o céu, grávido de apenas um dia, deitou-se sobre a cama de nuvens alaranjadas que o sol lhe ofereceu e que tão calorosamente o recebeu e aconchegou.
Ao fim de alguns minutos de um silêncio de morte, um grito... o primeiro de muitos que chegaram com o vento de norte, ecoou por todo o espaço que circundava a linha do horizonte!
Raios furiosos desprenderam-se do céu, que se partia em mil pedaços!...
Entre gritos de trovões endiabrados e raios de luz ofuscante, o céu deu à luz um novo ser intemporal...
A noite, fria e escura como breu, tinha acabado de nascer!
O céu partiu-se... e... emocionado... chorou!...

O sabor do pecado...

Das espigas de trigo douradas...
Vem o pão
Que o moinho de água
Moeu
...

Poderá porventura
Algum homem afirmar
Que nunca desejou
Nem comeu
O pão que o diabo amassou?!
...
Será porventura
Pecado

Ter fome de um pão
Tão desejado?!
...

Emoção da melodia



Através da música
...saem-te as palavras...
Como versos que brotam por ti acima
Em cascatas de rimas douradas
Até te aquecerem o coração...
Será que todos os homens podem ser poetas?
Não
Talvez seja só e apenas
Uma ilusão...
Um raro momento de sensibilidade
Ou quem sabe...
... uma emoção!

Labaredas que me devoram


Toquei... toquei...
Tanto... tanto...

Que teus olhos brilharam
E uma faísca lançaram...

Incendiando-me por fora
E por dentro...

Agora

Sou pasto das chamas
Que me devoram...

Calmamente irei visitando todos. Até já!