Não são raras as vezes, que, na busca do inefável, do mítico perfeito do nada que pode ser tudo, capaz de arrancar "oh's" de admiração das bocas dos outros, me perco em caminhos feitos de círculos minúsculos e fechados sobre si mesmos, na ridícula galáxia da minha ignorância, rendendo-me ao óbvio que não escondo e que por isso o deixo bem à vista de todos...
Quando finalmente me dou conta de que não sou capaz, baixo a cabeça num gesto de submisso conformismo enquanto me reduzo à minha própria insignificância, arrastando pelo chão a miséria que me resta, mas que, ironicamente, é também a minha única fortuna. Tal como uma pobre garota pequena e triste faria com a sua velha boneca de trapos, já tão suja e gasta, ao passar de mão dada com a sua mãe pela montra de uma loja de brinquedos e visse uma linda "barbie" sentada do lado de dentro da montra.
E morro-me lentamente, afogada nas minhas águas inquinadas de mediocridade, que, borbulhando, vão emergindo de dentro de mim, como uma poção mágica-maligna fervilha no caldeirão de uma bruxa daquelas histórias de arrepiar criancinhas inocentes... e que a certa altura me cospem e me deixam a flutuar sobre si mesmas, como o mar cospe um cadáver inchado que se solta de um navio afundado e o abandona à sua sorte, deixando-o a boiar impiedosamente ao sol, à chuva e ao vento, até se desfazer ou ser devorado por um qualquer tubarão faminto e já nada mais restar a não ser na hipotética saudade de algum amigo ou familiar, apagando assim com esta crueldade quase cínica, qualquer resquício da sua passagem pela vida...