Porque buscamos nós o belo?
Porque buscamos nós o perfeito?
As coisas, nem sempre são belas e perfeitas... não têm de o ser!

O belo, está nos olhos de quem o vê...

Hoje, procurei a perfeição numa mera imagem, esbatida pela erosão de um rasto de tempo sem alma nem idade.

Olhei-a fixamente e mergulhei no lago verde seco dos seus olhos, na esperança de a desarmar nem que fosse só por um segundo... mas ela permaneceu estática.
Apática.
Imperturbável
E distante...

Alheada da realidade.
Atirada para o fundo de uma velha gaveta carunchada.
Ali estava ela, inerte, suspensa no tempo sem volta.
Única passageira de uma carruagem fantasma, na marcha lenta que a levaria ao fimal do seu destino, na estação abandonada do esquecimento.

Aquela, que um dia fora a mais bela das princesas, de uma qualquer história de encantar, contada por uma mãe carinhosa, a um filho sonhador, na hora de adormecer...

E num acaso,
Sem a procurar,
Os meus olhos encontraram a beleza,
Encarcerada num pedaço de papel envelhecido e bolorento,
Que o tempo não poupou,
Quando do rosto
... lhe desvaneceu e roubou o sorriso bonito.

Mas para mim, continua tão bela, como no conto em que fora princesa...


E considero-a perfeita, para emoldurar este meu estranho texto de hoje!








Há um momento
Suspenso
No vazio do tempo...

Um momento
Em que a vida nos mostra
O quão frágeis somos
E o nada em que nos tornamos

Um instante
Perturbante
E errante
Ante o pressentimento
Do inevitável

O confronto
Entre a vida
E a morte!

Escapou-me algo...
Um grito mudo
Macilento
Possante
Lancinante
E sufocante!

Agiganta-se o sentimento
Perante a imponência
E a impotência
Da perda

E do tanto que era
Ficou tão pouco...

Restaram as lembranças
Que a alma guardou
É o que tenho
Um resto de nada...

Mas é o tudo
Que acho no vazio
Em que te procuro

Ainda assim
É tanto
Que tudo é pouco
Para dizer o quanto!

Não me esqueço de ti
Pai
A saudade sabe...



É urgente
É urgente silenciar o silêncio
Este silêncio ensurdecedor
Que me fustiga a alma
Sem cessar...

Anoiteço
E amanheço
Mergulhada neste Insuportável
Zumbido silencioso...

Que me esmaga o corpo
Contra as paredes
Cravejadas
De cacos de vidro
Afiados como gumes
Que se estreitam
Sobre mim
Golpeando-me de morte
Num sufoco interminável

É urgente
É urgente secar a fonte
Que inundou o meu sentir
E afogou o meu ser

E eu já não sou
Se não um corpo morto
Meio apodrecido
E jogado no fundo deste poço
Sem fim

Onde já ninguém me procura
É urgente
É urgente silenciar o silêncio
Que me grita como um louco
Mas que eu já nem ouço...


Penso que morri
Não sei...

Só sei
Que já nada sou
Insana mente a minha
Que se perdeu
De mim...

E permaneço aqui
Neste lugar oco
De um deserto
Arado pelo vento
Num qualquer algures
De um tempo findo

Onde nada existe
A não ser
Este silêncio gritante
E teimoso
Que ecoa na minha mente
Inconsciente
Vezes e vezes
Sem conta...!

É urgente
É urgente silenciar este silêncio
Que me aprisionou a alma
Deixando-a trancada
Neste inútil corpo!...



Nada disto é real!
São apenas palavras alinhadas ao acaso, movidas pelos sucessivos impulsos criativos da minha mente inquieta, perante a perspectiva de uma morte em vida, contrariada pela tão controversa proibição da eutanásia...