O tempo
É um cavalo
Alado
Que percorre
Incansável
Planícies e planaltos
Sem idade...

Umas vezes
Vagaroso
Sem pressa
Outras
Como um raio
Que atravessa
A poeira das estrelas
Sem deixar rasto...

Ora a galope
Ora a trote
Correndo horas a fio
É vê-lo
Sempre elegante
Decidido
Inchado de vaidoso
Ostentando no dorso
O seu cavaleiro
Resignado...

Sem apelo
Nem agravo
Numa marcha imparável
Qual condenado
A caminho do seu inevitável
Degredo...


O relógio parou às dezanove horas e treze minutos de um dia aparentemente normal, igual a tantos outros. De repente uma estranha calma se abateu sobre a cidade e nem os animais tiveram tempo de pressentir o que se seguiu...

Após a morte da terra, dos homens e dos animais; os que sobreviveram, passaram a vaguear sem rumo, numa luta diária e constante pelas coisas mais simples que um ser humano nem se apercebe no seu dia a dia da importância que têm nem do quanto delas necessita para se manter vivo. A água ainda corria nos rios embora tivesse perdido a sua aparência cristalina e passasse a ser barrenta. Os mares também já não eram de tom azul, agora eram pardos, da cor das nuvens que os cobriam e que haviam tomado o lugar do céu outrora radiosamente azul. O sol não mais se viu...
A busca incessante pela comida não lhes dava descanso e parar onde quer que fosse, por mais tempo do que o necessário para revolver o interior das casas abandonadas em busca de algo que se pudesse trincar e enganar a fome, seria a morte certa! Havia grupos organizados de gente sem qualquer tipo de escrúpulos, que se dedicavam a caçar outros malogrados sobreviventes dos poucos que se tinham recusado a suicidar-se... e uma vez capturados, teriam como destino uma despensa de gente ainda viva para que se mantivesse a sua carne fresca durante mais tempo a fim de lhes saciar a fome.
As estradas desertas eram caminhos para nenhures.
A desolação era total e bem real. Porque não havia mais nada a não ser fome, frio, medo, cansaço, desesperança... morte.
Passou-se algures, num futuro cada vez mais próximo.


Hoje vesti-me de silêncio

E sou apenas ouvinte

Dos aplausos mudos

Que me ecoam

Ainda


Na mente...


Sou palhaço

A tempo inteiro

Dentro ou fora

Do meu palco

Que ri e faz rir

Ou que também chora

Por detrás da cortina

Quando se emociona

Como qualquer outro ser

Humano


Mas hoje apetece-me

Ser só um palhaço

De cara lavada

Sem riso

Nem choro

Velando o meu sonho

No embalo

Na tranquilidade

De um inquietante

Instante silencioso


E sorrio...


Sorrio

Para mim mesmo

Quando me penso

Ser um simples louco

Um louco

Que se ri de si mesmo

Assim...

... só porque sim!


E que mal fará isso?

Se hoje me sinto feliz...


... assim!