Existem lugares onde o silêncio é a melhor das companhias.
O dizer da contemplação luxuriante do instante partilhado, é o agasalho perfeito que embrulha as almas felizes, satisfeitas por alcançarem o indizível das coisas...


Tenho um rio nos meus olhos, que corre sempre sereno a caminho da foz dos meus pensamentos...
Os meus passos imaginários, aventuraram-se no infinito do horizonte, e, sem me dar conta, trouxeram-me a estas margens que gravei na lembrança de um fim de tarde de Outono que nunca existiu...
Sentada neste chão sem terra, desenho no meu caderno de folhas brancas, um esboço de um poema sem letras, que me ofereceste sem te importares se o perceberia ou não... onde a silhueta de um moliçeiro se ergue no leito quieto do meu rio. Este mesmo rio onde um dia navegou a minha imaginação, sempre que te avistava através das cortinas de cambraia cor de violeta, que esvoaçavam ao sabor da brisa das tuas palavras quentes, que me chegavam sob a forma de cartas sem remetente, enviadas de um tempo que se perdia na lonjura dos dias sem fim.
Hoje regressaste desse tempo, mas já não és o mesmo. A tua imagem envelheceu, os teus cabelos já tão ralos e fracos embranqueceram e embora os teus olhos escuros e cavados me olhem fixamente, não me vêem... há um vazio que preenche este espaço enorme cheio de promessas e desejos do que nunca vivemos. E o tempo, sempre o mesmo malvado tempo!... que um dia nos aproximou é o mesmo que nos afasta, neste constante e ininterrupto martelar de tic tac's sem volta.


No tempo
Das desfolhadas
Era vê-los felizes
Raparigas e rapazes
Numa roda valente
Em torno das espigas

Alegres
Eram as cantigas
Que animavam a roda
Dos ansiosos corações
Pela achada do milho rei

Entre abraços
E beijinhos
Permitido seria, enfim
O tal
Dado de fugida
Na face da namorada
Que, ruborizada
Toda ela se consolava...

Concertinas
Apareciam
No fim da desfolhada
Para animar o bailarico
Até de madrugada!




Esta é a história
De um povo
De cujo fado
Já não há
Memória...

Da faina do mar
Das traineiras
Das terras
Lavradas
E dos carros de bois

Das lavadeiras
Das canseiras
E das (des)ilusões...

Diluiu-se tudo na espuma do tempo
Esfumou-se com o vento...

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