Chamo-me raiva
E estou grávida
De um grito agudo
Que carrego
Dentro de mim

Foi gerado à força
Numa cópula maldita
Num beco escuro
Entre o fio de uma navalha
E uma parede fria

Hei-de pari-lo
Numa noite destas
Quando voltarem os lobos
E uivarem em coro
A uma lua incandescente

Nesse preciso momento
Algo rasgará o silencio
E ouvir-se-à
Um eco estridente
De um grito medonho
Que galgará
Os muros do crepúsculo
Até ao cabo do infinito...

Devastará cidades
E províncias
Ensurdecerá os vivos
Paralisando-lhes o resto dos sentidos
E ressuscitará os mortos
Que se erguerão dos seus túmulos

Nesse dia
Cumprir-se-à a profecia
De todos os demónios
Que na terra habitam
Há milénios
Disfarçados de homens comuns...

E alguém anunciará a boa-nova
Que ditará os destinos
De um mundo decrépito
Corrompido e moribundo
Mesmo à beirinha do colapso

Nesse dia
Ouvir-se-à
De uma voz cavernosa
Uma só frase

Uma frase curta
E seca...
Nasceu a besta!



Ontem, roubei as palavras que não tinha, ao entardecer. Ele nem deu por nada de tão atarefado que andava a arrumar a casa depois da festa de mais um dia. Era preciso arrumar tudinho nos lugares certos, limpar o que restou do reboliço imprevisto da chuva, pintar o céu de vermelho aproveitando os raios de sol já tão enfraquecidos pelo cansaço da luta contra as nuvens pesadas e poderosas. Era preciso adormecer as campainhas amarelas da Primavera, os brincos de princesa dos canteiros das casas da aldeia toda; convencer os passarinhos tagarelas a calarem-se e a sossegarem nos seus ninhos feitos lá nos ramos cimeiros das árvores.
E as estrelas? Ninguém se lembrou ainda de as acender? É preciso acender as estrelas e já!
Tudo tinha de estar perfeito para ela...
Por fim ela chegou, cintilante e arrebatadora, com o seu vestido de prata e o encanto dos olhares de espanto de todos, espelhado no brilho dos seus cabelos esvoaçantes de deusa da noite.
Foi por ela que o entardecer se distraiu e deixou que lhe roubasse estas palavras com que agora vos descrevo o que realmente se passou.
A lua foi deusa e rainha, brilhou e encantou as almas mais sensíveis.
E mais uma vez, foi musa de poetas e aprendizes... até surgir este novo dia!

In Pulsos


É no silêncio, na escuta da sua mundividência, no recato da sua intimidade que Lurdes Dias(Cleo)mentaliza as suas emoções, pela renovação dos sentidos, des-dobrando-as, multiplicando-as e aprofundando-as, num trabalho de busca incessante de sentido metafórico, do que parece ser mas não é, pois que esconde uma realidade poética mais bela, a dor e o prazer da criação poética.
Juvelina Pereira

Estas palavras, obviamente que não são minhas, mas pertencem ao prefácio de um livro que irá nascer em breve e cuja autora há muito que vive neste espaço sob o nick de impulsos... sim, sou eu!
As palavras são de uma grande amiga minha, que este fascinante mundo virtual me permitiu conhecer e pela qual tenho muito respeito, admiração e carinho. A estes mesmos sentimentos, junto outro nome cuja amizade transpôs o muro que separa o virtual do real e que será a minha convidada de honra na apresentação deste livro; Mel de Carvalho é esse o nome de que vos falo. A sessão de lançamento está marcada para o próximo dia 6 de Junho, pelas 19:00h no Auditório sito ao Campo Grande, 56, Lisboa, sob a chancela da editora Temas Originais.
Entretanto e para quem ainda não me conhece ou tiver a curiosidade de associar um nick a um rosto, ei-lo aqui.

Para quem só me conhece por impulsos e possa ficar um pouco baralhado com o nome de Cleo, fica a explicação:

A Cleo nasceu aqui e foi convidada a participar neste e neste espaços, que abraçou de imediato participando activamente desde há dois anos a esta parte.

E não se esqueçam, estão todos convidados...
Apareçam!

 
Solidão virtual

O tempo comeu-lhe a carne
Enquanto corria atrás de um sonho...


A vida escapou-se-lhe
Por entre os dedos
E nem se deu conta
Que enlouquecia
De solidão

Julgando
Que vencia os seus medos
Na estrada larga da ilusão
Onde se jogou à sua sorte

A máquina devorou-lhe a alma
E definhou até à morte!...