Nos momentos vazios que me assaltam e me perturbam a quietude dos sentidos, escuto vozes estranhas dentro da minha mente, que me falam de um outro tempo, de uma outra vida, onde talvez já tenha estado...
Estranhamente, deixo-me levar sem resistir e viajo à velocidade da luz, entrando num buraco que se move em espiral, num remoinho que me suga e me transporta para lá do real, entrando assim num outro mundo, onde o tempo não conta, pois não existe relógio nem bússola, que o marque no mapa do explicável...
Estou a dois passos da porta de uma casa que reconheço, embora me pareça diferente vista deste lado. Entro sem vacilar, movida por uma força invisível que me atrai , tolhendo-me os reflexos contrários que me impedissem de o fazer. Os meus olhos procuram por algo que me seja familiar...
Subitamente, quedam-se num pequeno objecto pousado numa velha cómoda, encostada a uma das paredes da sala, que, agora tenho a certeza, já lá ter estado!
É uma moldura antiga, que guarda uma fotografia esbatida e quase apagada, mas onde ainda se percebem as feições do rosto sorridente, que me causa um arrepio inesperado. Aquele olhar penetrante, que me rasga a carne e me penetra até à alma, jamais o esquecerei... reconheci-te de imediato!
Eras tu, ali preso há séculos, segurando um instante com um sorriso, de um tempo passado... num tempo em que não te conheci...