Quatro paredes e um tecto, é tudo o que me resta do mundo...
Sinto fome da vida, que, indiferente ao meu sentir, fervilha no lado de fora da minha janela. E eu, do lado de dentro, assisto impotente ao incessante ribombar dos tambores que vão passando, tornando inquietante a quietude dos dias quase vazios. E vou contando as horas entre a madrugada e o anoitecer, especada, hipnotizada em frente da minha janela, fingindo que vivo enquanto me morro em cada instante de vida, suspensa por um fio de coisa nenhuma.
Amanhã, voltarei a acordar com a sensação de que algo me escapa para lá da janela, cuja cadeira em frente, me aguarda serena e permissiva. Sento-me e recomeço tudo de novo, exactamente do mesmo ponto de partida em que o deixei, que avança e retrocede, dia atrás de dia, sem sair do sitio onde me encontro. Ludibriada pela ilusão de que abraço o mundo e o mundo me abraça a mim, ainda que presa no vácuo do tempo que me sufoca e ao mesmo tempo, me foge...

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