Tinha na curva dos anos uma espondilite incorporada que a obrigava a caminhar de nariz rasteiro ao chão, impedindo-a assim de contemplar o céu e tudo o resto que existia acima do horizonte rastejante ao qual os seus olhos estavam confinados, limitando-se unicamente às raízes e às pedras do caminho por onde caminhava sempre sem ver ninguém; ainda que, a dois passos de si, alguém consigo se cruzasse. Se lhe falassem, respondia prontamente com o cumprimento costumeiro de um "bom dia" ou "boa tarde" logo seguido da pergunta que se impunha: "quem está aí?" Se fosse alguém conhecido, ainda fazia um esforço e erguia-se o mais que podia numa tentativa vã de encontrar o rosto de quem do alto lhe falava, se não fosse, poupava-se ao esforço desnecessário.
A capucha pela cabeça aparava-lhe a chuva e o vento que no Inverno a não impediam dos cuidados que tinha.
Do sol de Verão, sentia-lhe o calor que lhe queimava a pele dos braços cansados e a luminosidade espelhada no alcatrão da estrada por onde seguia a caminho da vida que lhe fugia...

2 impulsos:

madre superiora disse...

É a primeira vez que visito o blog e só li os primeiros 10. Boa escrita, mas isso não é, seguramente, novidade. A escolha de imagens é excelente, bem como o template utilizado. Apenas um reparo, falta uma pontadinha de humor, para o meu gosto, claro.

Gothicum disse...

...vidas...e há tantas por aí no mundo dos mortos!



bj