Estranhamente, dou comigo a segurar o queixo com ambas as mãos, inconscientemente alheia a tudo o que me rodeia.
Não me lembro de nada do que me perguntaste, ou sequer se me perguntaste alguma coisa...
Desliguei o botão da realidade a partir daquele instante em que a nossa conversa passou a ser um simples monólogo teu e as minhas sucessivas tentativas de participação e manifestações de entusiasmo, pura e simplesmente foram ignoradas. A minha boca foi obrigada a permanecer calada ainda que se tivesse aberto numa clara menção de intenção de falar, cheia de vontade de proferir ideias e pontos de vista. Tornaste-te o dono e senhor da palavra, remetendo-me ao silêncio involuntário com o papel de simples ouvinte, como tanto te convinha.
A tua determinação em mostrar o poder de liderança numa simples conversa banal, onde só tu é que contavas, onde só tu é que eras importante e tinhas coisas igualmente importantes para dizer, subestimando o que eu pudesse ter igualmente de importante para contar. Que ridícula forma essa que tens de te te afirmar!
Por isso, deixei de te ouvir e até de te ver, embora o meu corpo permanecesse diante de ti, com os olhos fixos no vazio cada vez maior, que as tuas palavras criavam em torno de nós.
A apatia tomou conta de mim e a minha mente salvou-me daquele purgatório, pegando nos meus pensamentos e voando dali para fora. Para bem longe do deserto onde me tinhas aprisionado e feito refém da tua mania egocêntrica de ser, teimosamente insistindo sempre em representar esse teu enfadonho e tão ridículo papel principal...

12 impulsos:

segredo disse...

Felizmente k nesses momentos a mente pode vaguear!
Beijinho de lua*.*

escarlate.due disse...

eh la... isso está mau por aí...
mas calma Impulsos amanhã é outro dia
beijooooo

Som do Silêncio disse...

Tão belo...como sempre!

Beijo meu

Som

impulsos disse...

escarlate
Nem sempre se pode levar à letra tudo o que se lê...
Nem sempre se escreve o que se sente realmente...
Pode não passar de uma lembrança que marcou um ontem e que nada tem a ver como o nosso hoje!

Moreno disse...

Uma realidade muito frequente quando um tenta monopolizar, deixando de existir o nós... egocentrismo... excelente escrito...

abraço

P.s. quando entrei, a música... sem palavras

Teté disse...

Estava a ler o teu texto e a pensar: coitada, esteve a aturar um político!

Bem sei que não era esse o sentido, mas com tanto fuzué à conta de debates, campanhas, eleições, etc. parece que ficamos canalizadas só numa direcção. E, assim como assim, essa descrição assenta a quase todos como uma luva... ;)

Beijocas!

Rafeiro Perfumado disse...

Não quero ser picuinhas, mas na imagem falta uma mão a segurar o queixo... ;)

Beijocas!

Nilson Barcelli disse...

A situação é banal e muito corrente. Há tentativas de diálogo que não passam de verdadeiros monólogos.
Só que tu descreveste e caracterizaste a situação com realismo, sem te esqueceres de uma narrativa agradável e muito bem conseguida.
Parabéns por mais este excelente texto querida amiga.
Boa semana, beijo.

Sidnei disse...

Lindo, perfeitamente posto...Por mais que a matéria esteja proxima o abismo invisivel se faz presente entre os seres humanos, e assim as relações se encaminham para o seu fim...

Beijos, e obrigado pela visita!:)

saudade disse...

Quando algo se torna infadonho, existe sempre a possibilidade de pensar noutras coisas, e ficar alheia ao que é dito ao nosso redor.
Saudade

Gata Verde disse...

Espero que este texto seja pura ficção!!
Cheio de sentimento...lindo!

beijocas

Secreta disse...

A nossa mente tem esse poder, de nos fazer viajar e ficar completamente alheias a tudo o que nos rodeia.
Gosto desses momentos.