Não precisava de muito para se sentir feliz.
Bastava-lhe apenas o casebre que possuía, onde à
noite acendia o lume da fogueira e se aquecia enquanto fazia o caldo das couves. Uma cama de ferro da qual já se tinha lascado a maior parte da tinta que não se percebia de que cor teria sido com dois ou três cobertores comprados com o dinheiro da lã das ovelhas, oferecia-lhe o parco conforto, que, para ela era mais que suficiente visto não conhecer outro. E ali estendia os ossos doridos por culpa do peso dos anos, em busca do merecido descanso ao corpo cansado.
De tempos a tempos, recebia a visita de uma sobrinha-neta, que, além da broa ainda morna da fornada da semana, lhe trazia também um brilho de alegria que logo se lhe via nos olhos de cor cinza, inundando-os de água salgada enquanto sorriam radiosos.
Por vezes também cantava. Não para não chorar a solidão dos dias, mas para se sentir um pouco mais acompanhada...

2 impulsos:

alma disse...

a realidade de tantos, mesmo nas grandes cidades.
sempre a solidão como companhia.

bj
eduarda

Nilson Barcelli disse...

A velhice pode ser uma coisa tramada...
Gostei do texto, magnífico.
Beijos, querida Lurdes.