Algures, num qualquer dia assinalado numa folha de calendário antigo e perdido num canto escuro de uma casa ao abandono, mas onde perduram as memórias de um tempo que já foi cheio!...
Um homem caminha com uma pequena pela mão. Foram por um atalho, pois que a camioneta não passava da Benfeita e até lá ainda era uma boa meia hora a palmilhar o carreiro. Além disso, o bilhete também custava dinheiro, daquele que pouco havia.
A poeira a entrar-lhes pelos sapatos e a tingir-lhes de castanho as meias brancas de sair. Mas isso era o menos. O pior eram os pés a queixarem-se dos tornozelos e os tornozelos a finjirem que não era nada com eles...
Já havia amanhecido entretanto, mas ainda faltam uns bons pares de km até à vila. É preciso apressar o passo, pois o especialista de Coimbra não costuma esperar por ninguém.
_ Pai, ainda falta muito? - Pergunta a pequena já cansada.
_ Não. Não vês que já andamos a maior parte? Daqui até lá é um salto! - Responde-lhe o pai, tentando a todo o custo, apaziguar-lhe o desânimo.
E lá seguiam os dois estrada fora. Agora já no asfalto, mas ainda assim, muito longe do destino que ali os tinha levado.



O caminho é em frente! Dizem-me as vozes que me habitam a mente. E eu tento obedecer-lhes. Contudo, não me consigo mover mais do que uns escassos centímetros, para onde vou arrastando a custo, este corpo morto.

Esta que aqui vedes, já não é a mesma que conhecestes - é agora uma sombra que se agita num esbracejar constante, mantendo a cabeça à tona, como quem, num último fôlego de vida, dá tudo por tudo para se não deixar afogar, apelando até, a uma fé que não tem. 
E luta! Luta com todas as suas débeis forças, naquele chão lamacento onde se deixou cair, qual mosca insignificante, presa no grude pegajoso de uma inesperada teia, onde, ainda que sem resignação, lá vai esperando o abraço sufocante da morte que a espreita cobarde e silenciosamente...





Não pertenço aqui
Não sou da terra
Nem do mar
Viajo p'lo infinito...

Sou o âmbar antigo
Incrustado
Na resina sem idade
O elixir da vida
Para sempre
Perdido

... e da alquimia
O segredo
Ainda por desvendar...
Sou o almocreve
Do tempo
Um mago errante
Que busca
P'la encantada

Mágica planície
Dos seus sonhos...