E se a vida fosse algo que se pudesse negociar? Encontrarmo-nos frente a frente com a nossa alma na hora derradeira. Podermos, naquele momento, reflectir na importância que a nossa vida teve, ou por outro lado, na sua insignificância... fazer a viagem em sentido contrário, apontando e reconhecendo todos os nossos erros e ter a chance de os eliminar voltando ao início de tudo. Ao ponto zero da nossa existência, recomeçando tudo de novo!
Será isto a essência da reencarnação, em que tanta gente acredita?



Quantas alegrias

de risos e euforias,
quantas tristezas
de lágrimas salgadas...

Chegadas e partidas,
promessas iludidas
esperas desesperadas...

Esperanças renascidas
de vidas desejadas!

E saudades,
saudades...

Quantas correrias
de crianças felizes,
quantas passadas
arrastadas
de vagares penosos
e bengalas...

Tantas supostas histórias
para sempre, sepultadas,
nestas moribundas
paredes caladas...


Foi rei no seu reinado enquanto durou a sua dinastia de amante libertino. Foi amado mas nunca amou. A coberto do seu manto aveludado que o endeusava e encantava as damas que de si se abeiravam, usou e rejeitou a seu belo prazer, satisfazendo os apetites do momento e nada mais do que isso. Foi mestre na sua arte!
Da sedução que o impelia ao crime noite após noite, vítima atrás de vítima, adivinharam-se-lhe inúmeros julgamentos desesperados, mas na realidade nunca chegou a ser apanhado e da pena se haveria de escapar sempre, até ao dia em que um acto insano se apoderou dos seus intentos e perante a perplexidade de todos, resolveu ser ele mesmo a meter o seu próprio pescoço no laço da forca...
Dizem que ainda por lá se encontra o corpo do infeliz. Miseravelmente abandonado no alto do penhasco, mesmo por cima do abismo cuja cobardia o impedira de se atirar condignamente.