Escuta...
Ouves?

São cascatas

Que se despenham
Pelos teus olhos adentro...


São palavras

Que ninguém inventou ainda

Mas que já existem

Naquele lago secreto
Que escondes
Nas profundezas
Do teu sentir...

Sei-o

Quando te apanho a jeito

E te espreito
Pelo canto do olho
Enquanto me serpenteio
Diante de ti

E te vejo sorrir...



Adivinho-te
A braços com o desejo
Que te desperto
Entre mil ondas
De prazer

Capazes de te estremecer

Na crista de um arrepio...


imagem retirada do site deviantART

... de súbito, num impulso abrupto, arranquei a máscara que tinha presa à carne e deixei que o sangue jorrasse pelo chão. Ali, mesmo ao lado, estava a porta escancarada e pela qual quem ousasse passar, jamais voltaria!
Quis fazer o mesmo ao corpo, mas a cobardia camuflada pelo sorriso que os lábios da máscara ainda ostentava e os murmúrios inaudíveis e imperceptíveis nos ecos das palavras ditas ao longo de um tempo que já não contava e agora se diluía nos salpicos de uma vida, não me deixaram.
Um braço pendia de um corpo inanimado, segurando aquele rosto decapitado que se mantinha inexplicavelmente firme na mão que o segurava, talvez na esperança de que ainda pudesse voltar ao sítio de onde tinha sido arrancada à força.
Mas as poderosas raízes que entretanto se tinham criado precisamente no sítio onde deveriam ter nascido as asas, rasgando a pele virgem e agarrando-se às paredes vazias de um muro empedrado, rompendo as frestas como serpentes que se esgueiram desaparecendo na escuridão e desaguando num ninho viscoso e bafiento, onde, enroladas sobre si mesmas em orgias de acasalamento intermináveis, se reproduzem às dezenas...
Essas raízes, as tais que o impediram de voar, são as mesmas que agora o mantêm ali suspenso e tombado sobre a culpa do acto praticado, num acesso de loucura ou desespero... como se fosse um troféu da morte e a prova viva da inevitabilidade da evidência e da fraqueza da alma humana.
É tão ténue e frágil a linha que prende uma vida, tornando insustentável o peso da leveza que a segura...



além das palavras... sou filha do sol e da lua, fui forjada sob o fogo, por isso só sei ser assim... regresso ao castelo nas nuvens...
levo comigo as tuas doces palavras, e nos meus lábios a tua alma... fico aqui... fico aquém dos meus sonhos muito além das palavras que escrevi... deixo que a alma cuide do meu sonho... e não... desta vez eu não sonhei...


Não são minhas estas palavras
São de uma alma que partiu
Deste mundo dos vivos
Levando consigo os sonhos
Para um castelo só seu
Que acreditava existir
Algures
Além das nuvens...

Estas foram
As últimas palavras suas
Que deixou suspensas
No tempo...

Foi lembrada
E visitada
Meses a fio
Por quem não se apercebeu
Por quem não soube
Da sua partida...

Sim
Partiu sem aviso
Sem despedida...

Mas deixou marcas na alma
De quem com ela se cruzou
Neste oceano de sentimentos
Onde se navegam as palavras...

Algumas
Foram por si
Sopradas ao vento
Em noites e dias
De sofrimento
Tão seu...

Pois sabia que não tardaria
A hora da chegada
Da morte que a levaria!

Ainda hoje por ali permanecem
As derradeiras palavras...

E flutuam...
Como cinzas
Numa campa aberta
Que nem o tempo
Se atreveu
A fechar ainda!



Estão aqui
E há mais aqui

Há dias, ao passar por velhos espaços que antes fervilhavam de vida e que agora encontrei ao abandono, deparei-me com coisas suas e não pude deixar de me emocionar.

Conheci a Dreams (uma jovem de vinte e poucos anos) na blogosfera. E tenho a certeza de que muitos de vós, especialmente os mais antigos nestas andanças, ainda se lembrarão dela também.
Palmilhámos os mesmos trilhos das linhas que nos cruzavam os destinos e nos faziam a felicidade do instante.
Um dia desapareceu...
Soube mais tarde que tinha falecido.

Arrepia-me ver a quantidade de gente que não a esqueceu, regressando de tempos a tempos ao seu cantinho e ali continua a deixar-lhe palavras naquela caixinha de comentários, como se ela alguma vez voltasse para as ler...




Há qualquer coisa de enigmático que se esconde na penumbra das palavras que não diz... que apenas sussurra...
... nos murmúrios imperceptíveis que se lhe escapam por entre os lábios quase cerrados e que só um ouvido encostado e à mercê de um toque atrevido de língua húmida e quente, lhe reconheceria os intentos gulosos...

Atraídos pelo seu fascínio, há quem se perca nas malhas das sensações indescritíveis que se abrem num piscar de olhos sedutores e se despenham por uma fraga de novas emoções, serenando por fim, num terreno desconhecido e ao mesmo tempo tão apetecível... aí, é-se convidado a entrar numa outra realidade onde a fantasia é o passe e a ousadia a peça fundamental num jogo de sedução e quase sempre jogado a dois, cujo objectivo é exactamente o mesmo, ou seja, o prazer da conquista. Este é o ponto fulcral da escolha. Do avanço ou do recuo de um pequeno passo que ditará a vivência ou a recusa de uma experiência nova. Quem escolhe correr o risco e viver essa aventura, afirma sem hesitar -  é viciante, é aliciante e quase obsessivo. Muitas das vezes, jogado até ao limite do irracional... como se não houvesse amanhã. E aí, talvez se torne até, perigoso. Mas será sempre uma lição que ficará para o resto da vida, quanto mais não seja, pelos momentos que se permitiram na cumplicidade da partilha, desbravando os caminhos da tentação e desafiando as margens da fronteira entre o desejo da loucura e a sobriedade da razão.