Entre um ontem
Já distante
E um amanhã
Ainda longínquo
Há um tempo indefinido
Que o relógio vai marcando
No compasso vazio
Meio cheio de esperança
Por onde vai caminhando
A vida

Entre as memórias
Da lembrança
Que o vento não levou
E o que ainda falta
Do caminho
Lá vai o pobre do engano
Entretido com o sonho
Que toda a vida
Consigo guardou

Ruma decidido!
A passos firmes!
Seguindo as coordenadas do deserto
Que até daqui se avista
No horizonte
Do desconhecido...

Soubera eu o quanto
Do pouco
Que ainda me resta
E não desperdiçaria tanto
Com a ilusão
De que tudo isto
É o que me completa...

Mas que mais poderei eu fazer?
Se do tanto
Que poderia ser
E não fui
Nada guardei
A não ser as penas...

Iludo-me!
Bem sei
Mas mil vezes esta insana
Àquela outra que desiste
E se entrega ébria
Ao malogrado desespero
Do desmazelo da inércia
E se deita
Com ele na cama
Da infinita espera
Sem chegar a conhecer
O fim do caminho!




Havemos de nos encontrar um dia, na esplanada do entardecer, naquela mesa do canto, junto às escadas que dão para o areal da praia onde te inventei.
Levarei o meu vestido amarelo, que alguém me ofereceu em pensamento, numa das muitas vezes em que me senti uma pequena rainha, no meu reino do faz de conta...
Entrançarei os meus longos cabelos numa só trança, que se estenderá pelas minhas costas nuas, mas deixarei solta aquela madeixa branca que o tempo me ofereceu e que tu tanto gostaste aquando do meu sonho. Disseste-me até, que me dava um certo charme... um ar de mulher madura e ciente daquilo que quer. Calçarei uns sapatos vermelhos de salto alto, ainda que sejam os primeiros e últimos - algum dia teria de ser... sei o quanto gostas de apreciar a elegância feminina em todo o seu esplendor, vejo-o no teu olhar de homem de gosto refinado e sinto-o no teu querer de macho sedutor. No prazer que te dá quando olhas para trás duas ou três vezes, após te teres cruzado, por acaso, com uma mulher bonita e bem vestida, na rua.
Ainda não sei se me maquilharei, pois nunca aprendi a fazê-lo e talvez não me saia bem.
Ainda assim, encontrar-me-às de aspecto jovem, mesmo que já não o seja.
Estarei à tua espera, no sítio que te falei em devaneio, lembras-te? Aquela tal conversa que nunca chegamos a ter...
Esperar-te-ei ao entardecer de um dia de sol, que, ninguém supõe terminar em nevoeiro. Mas assim há-de ser!
Se puderes aparecer...




Senti as mãos
No algodão leve das nuvens…

Os raios de sol recolhem-se
E enxugam os templos…
Ouvem-se os sinos nas encostas
Cantam hinos às cegas.
Amansam-se os rituais…

Sinto-me cansada,
já não sinto frio…
Gotas orvalhadas
molham o meu corpo dormente…
E nesta inquebrável teia perco-me…

Já tinhas reparado?
Tranco-me por dentro…

Surgem gargalhadas, silhuetas, sombras,
escadas perversas…
Falas dispersas…

Tenho dias que sem saber escrever,
Arranjo um sonho para poder contar.
Não vendo poesia…
Palavras… versos…
TU, às vezes
és tão diferente…
irrelevante.
Trazes o mundo embalado nas tuas mãos
O amor em pedra bruta no Coração…

Eu quero ser assim
tal como sou…

E hoje
Não estou
P`ra ninguém
Marquei encontro com o silêncio…

Vem comigo minha amiga,
saltar juntas deste cume da vida
onde os poetas têm asas escondidas
Que nunca morrem…

Nota Final: Os meus pais nasceram sob calor o calor do sul.
Eu nasci em Lisboa, mas é depois do Tejo que me sinto em casa.

Compilação da Dr.ª Carmo Miranda Machado – Versos Extraídos da Colectânea “Tu Cá, Tu Lá”


Esta é uma antologia onde tenho o privilégio de também participar com alguns poemas meus.
No próximo Sábado, dia 17, será o dia da sua apresentação.
Se quiseres passar uma tarde diferente, aparece!
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Para uma informação mais detalhada, é só dar uma espreitadela ali na coluna lateral... está lá tudo ao pormenor.


Sem que ninguém o prevesse, surgiu de mansinho pela calada da madrugada, sob a forma de um esticão abrupto trazido na ponta de um raio inesperado, deixando no ar um estranho silêncio impregnado de mágoa e de culpa...
E assim, do nada, surgiu o espinho indesejado que se cravou fundo na carne.
Não se explicam palavras que nos saem inconscientemente sem aviso prévio, que as pudessem travar antes que o seu eco se ouvisse como pedras arremessadas a uma parede erguida numa fracção de segundo, esfacelando o que levou anos a construir.
Resta-nos o silêncio que ficou e nos mergulhou no desconforto da dor causada. Talvez o tempo dê razão ao conhecimento, que, agora, possuído pela estupidez do orgulho ferido, o impede de ver a verdade... e a leveza da mão que poise na consciência, chegue para nos aliviar do peso que nos esmaga e estraçalha a alma!